domingo, 9 de outubro de 2011

Bibliografia

Caros miniaturistas

Para além da minha "bíblia" (que já havia falado num post anterior) e recordo novamente:
MADUREIRA, Nuno - Lisboa 1740 - 1830. Cidade: Espaço e Quotidiano. Lisboa: Livros Horizonte, 1992. É um livro excelente sobre os interiores das habitações lisboetas do período do Palacete Agostini, quer ao nível das divisões e sua estruturação, quer ao nível do mobiliário, com inventários post mortem muito utéis para percebermos os recheios e as modas.

Tenho-me esquecido de referir outro livro bastante importante, com muitas informações significativas ao mesmo nível do anterior:
MATTOSO, José (Dir.) e MONTEIRO, Nuno Gonçalo (Coord) -  História da Vida Privada em Portugal. A Idade Moderna. Lisboa: Círculo de Leitores, 20011. Vale bem a pena ler "Os espaços da vida privada".
Claro que os outros volumes da História da Vida Privada são igualmente importantes e vai muito depender da data do projecto de cada um...
Bom trabalho.

Gravuras Sala de Música


Tenho andado muito longe das minis por motivos profissionais, mas aqui está o que tenho andado a fazer com muita calma... Emoldurei nas tais molduras um conjunto de gravuras para a Sala de Música, mas ainda faltam muitas mais...
Na fila de cima novamente Piranesi, com dois interiores, na fila inferior F. Chaveau, duas cenas mitológicas e a meio uma alegoria da música.
Tudo gravuras que circularam em Portugal no séc. XVII (fila inferior) e séc. XVIII (superior).
Desculpem o fundo "ruidoso", mas a minha máquina digital teimava em não focar as imagens tão pequenas e só aceitou com este fundo...

sábado, 24 de setembro de 2011

Tons e objectos

Já pintei a lareira novamente, agora com efeitos marmoreados. Ainda não decidi se vai ficar assim ou se volta para o bege. Já ando a experimentar tons gerais para a "Casa dos Livros".

Verde escuro ou verde claro? (O fundo das fotografias é do meu catálogo de tecidos para os reposteiros deste projecto: tecidos com um padrão minúsculo e são fáceis de "preguear" para fazer o efeito de reposteiro). Talvez opte pelo mais claro, pois a divisão é tão pequena que acho que vai sobressair. Quando ao  friso de azulejos policromados Neoclássicos (1790/1800) ainda não me decidi... É só pensar que este palacetezinho sofreu alguns danos com o terramoto de 1755 e que parte da "Casa dos Livros" teve de sofrer intervenções e que se forrou com azulejos meia parede, muito em voga e também produzidos na Fábrica do Rato...(Isto já sou a imaginar como justificar esta intervenção e mudança nas tendências decorativas...)


Esta semana comprei molduras online, outra vez (parece que nunca mais aprendo...). Gostei de cinco, as mais pequenas e todas iguais, mas a dourada larga é torta!! E agora? Salta bem à vista!! A sorte é que não foram nada caras, mas...
Já escolhi e imprimi também algumas gravuras para as molduras, mas vou colocá-las antes na Sala de Música, senão nunca mais tenho a divisão acabada...Desta vez, para além do gravador Bartolozi, escolhi um gravador da segunda metade do séc. XVII, F. Chaveau, com temas religiosos, muito usados nos nossos interiores.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Porcelana da China - travessas


Como tenho a mini porcelana na minha secretária de trabalho...não resisto e nos intervalos vou fazendo algumas coisas. Agora foi um par de travessas, não dos finais do séc. XVI, inícios do seguinte, que é a datação do par de potes, mas do séc. XVIII, decoradas com flores (peónias?)  e folhagens e bordo com motivo de escamas de peixe, tudo em azul cobalto.
O mais incrível é que este par de travessas é mais pequeno que os pratos que adquiri...


domingo, 18 de setembro de 2011

Porcelana da China


Apesar do volume significativo de trabalho este fim de semana, não resisti...
E tenho de dar um destino ao conteúdo da minha encomenda.

Fui olhar para a Colecção de Porcelana da China da Casa Museu Anastácio Gonçalves, em Lisboa: este par de potes foi buscar inspiração a um pote da referida colecção, dos finais do séc. XVI, inícios da centúria seguinte, azul cobalto e branco, período Wanli e representam faisões numa paisagem montanhosa. Foi assim que usei o meu novo pincel 0,02 e tintas para porcelana a frio da Pébéo Ceramic.
Espero ter conseguido captar as "aparências" da porcelana chinesa...

sábado, 17 de setembro de 2011

Casa dos Livros


Sobre a encomenda que veio, não vale a pena chorar sobre leite derramado e o melhor mesmo é pôr mãos à obra. Foi o que fiz, começando pelos objectos que se destinam à Casa dos Livros.
A lareira (que era preta) vai ser agora de pedra (não sei se lhe faça os veios para imitar mármore ou se a deixe assim...) e o par de molduras para as duas paredes que emolduram a janela.
Resolvi e à escala, colocar-lhe duas gravuras de Piranesi (1720 - 1778) um arquitecto e gravador italiano que se apaixonou pelas ruínas de Roma (entre outros motivos arqueológicos que a cidade oferecia à época...) e realizou a partir de diversas vistas da cidade um conjunto considerável de gravuras.
Estas circularam em contexto português e eram muito apreciadas, reflectindo já um interesse sobre o que iria ser um dos principais motes do Neoclássico/D. Maria: o interesse pela Antiguidade Clássica. Conhecem-se várias gravuras, quer no espólio da Bib. Nacional, quer em Coleccções Particulares.
Á esquerda temos o "Arco de Trajano" e à direita o "Arco de Tito": creio que o aparato das molduras vai bem com o tipo de gravuras....O passe-partout usava-se (e também ainda hoje) mas permitiu-me reduzir as gravuras à escala 1/12 para se adaptarem às molduronas!!

(Desculpem o fundo da fotografia: ficam a saber qual o aspecto da minha mesa de trabalho...)
Uma vez que esta habitação é uma construção do séc. XVIII, com mobília e objectos da centúria anterior, mas com móveis já do período D. Maria, finais séc. XVIII, inicios séc. XIX (como já indiquei, as cadeiras da Sala de Música), estou seriamente a pensar na hipótese de, na Casa dos Livros, forrar as paredes com um silhar de azulejos D. Maria/Neoclássicos, entre 1790/1800... Que vos parece? Até porque a lareira é de transição D. José/D. Maria...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Finalmente, a encomenda!

Finalmente hoje chegou a minha encomenda.
Que decepção: maus acabamentos, ar de plástico, espelho e molduras gigantes (já descolei a Mona Lisa que lá vinha...)!! A estante é uma decepção, não veio o par mas uma só (e que maus acabamentos) a lareira da biblioteca é preta...O que estava esgotado era o que mais queria: uns tubos de farmácia azuis e brancos.
Os pratos são altissímos e maiores que as travessas. Os potes são os objectos mais giros e com mais potencialidades.

Ui!! Haja criatividade para estas minis, pois vou precisar de muita imaginação. E, num momento de crise, só de pensar nos euros gastos nestas coisas, até me arrepio. Lá vou eu voltar à balsa e à pasta de moldar caseira: não ficam piores que estes.

Outra pergunta: as lojas de Minis não enviam facturas? Então o que eu paguei corresponde a quê? Já é a segunda vez que adquiro minis e não vem um único papel com as mesmas...

Apesra de muito pressionada pelo início do ano lectivo, vamos a ver se neste fim de semana tiro um tempinho para as minis...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Adenda ao post de ontem

Caros miniaturistas

Estou muito contente porque este blogue transformou-se num interessante espaço de discussão de ideias!
A minha mensagem de ontem foi no intuito de explicar as minhas opções face ao "palácio" e não de diminuir a qualidade dos trabalhos de todos os que se têm esforçado para acabar os seus "palácios".

Caro Ritchie: ajudo-te em todos os aspectos que quiseres. Também podes ter um projecto da 1º metade  do séc. XIX (mobilias que vás adquirindo), com algumas mobilias do séc. anterior (mobilias da Planeta Agostini, mas nem todas: a cama do "quarto" inspirado no Delfim de França é de transição 1790/1800, enquanto que a outra cama é 30 anos antes...), ou seja, teres um espaço do séc. XVIII com mobilia do séc. XIX... há mais escolha nas lojas de minis e temos muitas descrições de interiores onde te possas inspirar.

Concordo com a Ana Anselmo quando atesta a qualidade do que nos foi vendido pelo Planeta Agostini e pelo interesse do projecto per si. A ideia matriz é boa. E realmente não é a ideia de cópia fiel que aqui está patente, mas a "da representação de uma época" e com isso concordo em absoluto.

O problema sou eu.
Não posso é concordar com o facto de eu, que ando para aqui a esforçar-me pelo rigor histórico, continuar na onda do "palácio", "quarto da rainha" e outros termos armadilhados, que não têm uma correspondência prática na estrutura que todos temos. Eu não posso vender gato por lebre, senão que tipo de historiadora da arte sou? Todos vocês estão muito atentos ao meu blogue e começo a ter muita responsabilidade cientifica naquilo que escrevo aqui e todos vocês me merecem este respeito. Por isso ontem organizei as minhas ideias sobre o meu projecto.

Faltou-me dizer imensas coisas: todos temos poucos lugares sentados. O que se passa na Sala de Música, que nos desagrada por acharmos que tem mobilia a mais, está correcto. O prestigio social dos habitantes estava directamente dependente da quantidade de divisões e do nº de lugares sentados disponíveis... Nos testamentos, há salas grandes que têm 24 ou 36 cadeiras de braços e os respectivos canapés!! Imaginem lá, parecia uma sala de aula de hoje... Geralmente estavam encostadas às paredes e tinham por companhia espelhos, quadros, tremós e muitas, muitas bancas (mesas pequenas) de pé de galo para chá, para jogo, para um pouco de tudo....
Não se esqueçam de muitos quadros com santinhos e um oratório no quarto. Fundamental, pois rezava-se nos espaços mais recatados, embora há medida que se vai descendo na escala social, os santos saem dos quartos/câmaras para a sala...

Outra nota: quando as habitações eram mesmo humildes, há casos onde para não se sacrificar a unica divisão de receber (a sala) se dorme na cozinha, ao lado das arcas salgadeiras....

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Caros miniaturistas

O Ritchie lançou-me uma questão/desafio bastante significativo: já andava com esta questão na minha cabeça há um tempo antes do longo interregno e ainda se mantém.
O mérito de todo este discurso vai ser da minha Biblia, o livro de Nuno Madureira: Lisboa 1740 - 1830. Cidade: Espaço e Quotidiano. Lisboa: Livros Horizonte, 1992. É nele que me debruço SEMPRE para me inspirar, para saber como fazer, para conhecer um pouco mais dos interiores das habitações lisboetas na época. É imprescindível porque traz em anexo inventários de casas: o nº de divisões e a mobilia nelas existente. Deixo ao autor a minha homenagem!!

Que tipo de palácio é o Palácio da Planeta Agostini? Que época, que mobiliário, que habitantes, etc?

O mote de inspiração da Planeta Agostini foram os palácios franceses da 2º metade séc. XVIII... Eu diria que é uma ideia que vendeu bem, mas não tem correspondência nenhuma com a realidade. Basta ir a França para sabermos que isto não é assim. Há um aparato decorativo e uma dimensão esmagadora que o nosso palaciozinho, acanhado e medíocre, não tem. Estes foram os motivos que me fizeram inverter o rumo dos trabalhos para uma coisa mais à moda portuguesa, uma vez que o fausto francês seria impraticável.

Começamos pelo problema do nº de divisões. 8 divisões nos finais séc. XVIII não é um palácio, nem um palacete. É uma casa normal, da burguesia. Um T1 de agora.
Os palácios tinham muitas, muitas divisões: quanto mais salas se atravessam, maior é a importância da pessoa que se visita. Quanto mais salas a pessoa tem, mais prestigio social.

A nossa casinha:
Não tem piso térreo (cocheiras, cavalariças, palheiros, instalações para criados e  moços).
Depois os andares são bem modestos: uma divisão de entrada que dá acesso a uma "biblioteca" e a uma Sala de Música. Muito humilde. Eu diria mesmo paupérrimo. No piso seguinte a mesma situação: uma cozinha para a preparação de refeições (devia de ter o dobro ou o triplo do tamanho para guardar as arcas salgadeiras, as arcas dos cereais, a pipa do vinho, os alguidares de escaldar a loiça...faltaria a despensa, onde se guardavam os alimentos como os queijos e os presuntos, o açucar e o mel, os condimentos e cuja chave estava com as patroas ou governantas). Como área intermédia uma divisão para fazer refeições colectivas e ao lado uma pequena saleta para receber as visitas (que deveria estar onde é a Sala de Música...).
Os "quartos" ou mais correctamente, as câmeras, na mansarda: que desprestigio. E as instalações não eram para um casal, mas para uma pessoa só. Para cada membro do casal: Câmara para dormir (vestir e fazer a toilete) e antecâmera (para receber, fazer refeições, jogar). O casal só dorme junto em camadas muito baixas do ponto de vista da hierarquia social. Lembrem-se do nosso querido Saramago e do Memorial do Convento: no ritual do Rei a ir dormir com a Rainha... quantas divisões atravessava, que aparato. E finda a função, não dormiam juntos, que horror, mas cada um em seus quartos/aposentos/câmaras...

Outro mau pormenor: Qual quartos de crianças ao lado dos pais? Isso é uma invenção séc. XX. Quem tomava conta das criancinhas eram as amas de leite...Não estão a imaginar uma duquesa a levantar-se a meio da noite para ir amamentar a sua descendência, pois não?

Conclusão: neste projecto da Planeta Agostini está quase tudo errado.
A coisa que me ocorre depois deste texto (e de vos aborrecer tanto...) é que o mais importante é definir quem vive na casinhota e com quem... E em que década?

Uma porção da mobilia pertence à primeira metade do séc. XVIII , a outra pertence à segunda metade: principais tendências são as linhas curvas, os dourados (cama e tremós), mas as pernas acabrioladas das cadeiras (sala de jantar, mas também as pernas do cravo) dão lugar às linhas rectas (cadeiras sala de música). Conclusão: a casinhota tem de ser da 2º metade séc. XVIII para se poder encaixar toda a mobilia sem problemas, até por causa do par de tremós, muito em voga nas últimas décadas de Setecentos.
Até aqui, os azulejos, quer do hall, quer da cozinha, não chocam.

Mas já perceberam que um dos aspectos mais importantes agora é definir - quem vive na casinhota?
Pelo tipo de direcção, instalações e decoração geral, eu aposto na casa de uma viúva de um desembargador, que após a sua morte teve de se mudar para uma residência mais modesta, talvez ainda da família... Classe média alta, sem filhos, duas câmaras (quartos) para a viúva, o Salão de Chá para os fins de tarde com as amigas e familiares, a Sala de Música a atestar serões de outros tempos, a Casa dos Livros herdeira da primitiva, maior e mais espaçosa, onde o marido trabalhava e fazia os serões e recebia os funcionários e guardava o dinheiro. Ficou a mobilia e os livros de Direito e um ou outro romance da senhora.

O par de móveis de conter que estão no hall, em pau preto, pertenciam à familia e por isso foram ficando, secundarizados pelas mobilias mais leves das divisões mais nobres, em particular pelos tremós. Ainda me faltam mais assentos, em particular assentos colectivos, como o canapé, que a par dos tremós estava mesmo na moda nesta época. Assim fica o rumo do meu casinhoto definido e que vai pautar as próximas opções. A secretária pequena, que é de senhora, vai para a câmera e não para a Casa dos Livros, que deverá ter uma mesa de trabalhos mais masculina. As porcelanas da China azuis e brancas estavam bem na moda, bem como as pratas e a faiança da Fábrico do Rato. Os grandes pratos de aranhões eram da avó da senhora viúva do desembargador, que com este tamanho de casa tem de ter duas criadas ao seu dispor: uma a cozinhar e a outra a limpar e a fazer recados... Nunca leram o Primo Basilio, do Eça? Apesar de retratar a sociedade lisboeta 80 anos depois, dá um bom retrato....

Vamos ver se tem coerência com tudo o que tenho feito e planeio fazer.
Ufa, desculpem tão longo discurso e ainda por cima redigido sem o acordo...Agora calo-me.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sala de Música IV - Disposição dos móveis


Bem, antes dos cortinados e dos reposteiros, antes dos quadros colocados, tenho de começar a pensar qual vai ser a disposição da mobília na Sala de Música, agora que troquei a harpa pelo tremó...


O cravo de costas para nós fica estranho porque nos exclui enquanto observadores de um desenrolar de cena... O espelh parece estar sujo, mas não, fica sempre com este estranho reflexo, parece untado com óleo!

Que vos parece? Esta última hipótese não me parece má, convida a tocar e também a ouvir... mas a primeira hipótese também gostei. Qual é a vossa opinião?