terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Salão de Chá I

O Salão de Chá do palacete foi, infelizmente, a divisão por onde comecei (corria o maior risco em relação a precipitações), em paralelo com a cozinha. Mas enquanto que na cozinha utilizei um critério de qualidade irredutível, aqui contentei-me (com grande perda de qualidade para o palacete) com o papel autocolante no chão...E claro, estou deveras arrependida, mas agora para o tirar, teria de arrancar todo o rodapé e o papel de parede e a lareira...
Usei uma das folhas de papel de parede entregue pela Planeta Agostini e o resto da divisão foi pintada de amarelo suave, cor de trigo quase. Construí uma "parede de tijolos" em cartão e escurecidos a carvão para colocar de fundo à lareira.

Nesta imagem podem ver-se os dois reposteiros, com as respectivas galerias. Os do Salão de Chá são em azul acinzentado e do mesmo tipo de tecido. E nota-se bem a diferença entre o soalho de madeira e o autocolante desastroso, má hora!

Para decorar esta pequena divisão, que critérios? Não era incomum neste tipo de habitações apalaçadas, homens e mulheres terem instalações diferenciadas: os homens apreciavam os Escritórios e ou Bibliotecas, as Salas de Fumo, entre outras. Para as senhoras, uma divisão destas era o ideal para receber visitas, dar chás, enfim, tarefas inerentes à vida social. Em França, uma divisão destas, quando funcionava em apoio aos quartos da senhora, chamava-se boudoir.
Assim, os critérios adoptados foram os de realizar uma divisão acolhedora no intuito de proporcionar às visitas o maior conforto, a privacidade necessária às conversas no feminino e um sítio onde se pudesse tomar um chá entre biscoitos, risinhos e leques. Com porcelanas da China a acompanhar e pó de arroz a retocar!

Por cima da lareira, três gravuras (as molduras são em estanho, pintadas de dourado, adquiridas em papelarias). São reproduções à escala dos originais da época. A gravura do meio representa o rei D. João V e é uma gravura a buril de Étienne Desrochers, datada da primeira metade do séc. XVIII.
Do lado esquerdo, o rei D. José, pela mão do gravador Gaspar Fróis Machado e do lado oposto, uma gravura a água forte e buril que retrata a rainha D. Maria I, ambas datadas da segunda metade do século XVIII.

Prémio "Esfuerzo Personal" 2 atribuições

Desta vez, este Prémio foi-me atribuído pela Rute e passo a citar: "pelos magníficos trabalhos e pelo empenho na construção do seu palácio à maneira portuguesa"
Um grande obrigado para ti Rute: creio que temos algo em comum, pois também sou novinha nestas andanças dos blogues e das miniaturas! E também é a minha primeira casa de bonecas!! E também a estou a fazer com a minha filhota! Esta atribuição dá-me (nos) uma grande responsabilidade no mundo dos miniaturas, por isso, mais uma vez um grande obrigado e um beijinho, com votos de excelente trabalho!!

Este Prémio foi-me atribuído pela Ana Anselmo, do blog Miniatures Forever cujo critério de atribuição foi "porque nos tem ensinado tanta coisa sobre o mobiliário português e não só."

Quero deixar aqui expressa, mais uma vez e porque nunca é demais repeti-lo, o quão estimulantes têm sido as críticas de todos os que acompanham este Blog, mas as da Ana Anselmo têm-me ajudado muito a crescer enquanto miniaturista.
Tenho aprendido muito com o teu Blog, que faz um trabalho imprescindível no que concerne à divulgação de materiais, de ideias, de projectos, enfim, de tudo o que possa contribuir para melhorar e inovar o trabalho dos miniaturistas, mas não só.
A vocação didáctica do teu Blog é muito significativa no contexto dos Blogs dedicados ao miniaturismo.
A atribuição deste Prémio estimula-me, mas também constitui uma grande responsabilização em relação ao projecto que tenho vindo a desenvolver. Obrigado pela confiança e pelo apoio.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Cozinha IV

Quem se colocar na varanda da cozinha tem esta perspectiva do interior da mesma.
Isto a propósito de mostrar um pormenor importante: como é que os habitantes do palacete chamavam os criados?
Com certeza que não se punham a gritar e aos berros!! Era simples: em cada divisão existia um cordão de seda, ou uma fita larga, de tapeçaria, ligada a um mecanismo que, quando eram puxadas, na cozinha tocava uma determinada campainha.
As criadas sabiam de cor que campainha correspondia a que divisão e a ela se dirigiam.
É um pormenor importante para uma reconstituição deste teor.
Falta-me agora colocar os cordões de seda nas divisões.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fontes de Inspiração II

E mostro mais uma vez as minhas fontes de inspiração, embora sejam dois interiores dos finais do século XIX. A fotografia de cima mostra um recanto de uma sala de jantar, com um par de móveis "de conter" holandeses e as paredes forradas com painéis de madeira, com prateleiras e duas mesas de apoio.
Estes móveis eram usados para guardar as loiças e neste caso exibem um minucioso trabalho de marcenaria.

Esta imagem mostra uma divisão de apoio aos quartos, um toilette, neste caso em estilo Louis XV: note-se o tremó, a cómoda com o par de espelhos, o canapé e a porta, com reposteiro e galeria.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sala de Jantar IV

Ainda na Sala de Jantar, os aros da porta de acesso ao Salão de Chá eram muito mal feitos... e pequenos para a porta. Como assim não poderiam ficar, lembrei-me de fazer, bem ao espírito da época, um reposteiro, com a respectiva galeria.

Neste caso, escolhi um tecido de decoração azul escuro com pontos em dourado e costurei os reposteiros de modo a "caírem em pregas" sem ocupar muito espaço na sala.

Fiz a galeria em madeira, apliquei tapa-poros e encerei. Depois apliquei uma pecinha de metal, um "embelhisment". Para decorar a galeria, usei o mesmo tecido e cordão dourado.


Aqui é uma perspectiva da área vísivel de quem se coloca à porta da cozinha.

sábado, 15 de novembro de 2008

Sala de Jantar III


Que tipo de mobília tinham as Salas de Jantar portuguesas no último quartel do século XVIII? Um pouco de tudo: aparadores, mesas de encostar, louceiros, cantoneiras...Tudo o que servisse para guardar louça e/ou expor louça, ou servir de apoio às refeições.

Acontece que esta Sala de Jantar não tem paredes para encostar móveis!! A escada retira muito espaço, a balaústrada (que ainda não temos) não serve para encostar móveis...Que outras opções? Só uma conseguia ter algum consenso: inviabilizar uma das saídas da escada. E com o quê? A opção louceiro é demasiado grande, não há cantos para colocar uma cantoneira, os aparadores à venda são todos do século XIX...

Lembram-se da mesa de encostar D. José, numa das primeiras rubricas (Mobília Nova)? Era uma das hipóteses, pois para além de estar integrada na época em questão, não conseguia vislumbrar mais nenhuma área do palacete para a colocar.

Esta mesa era o "toucador" do quarto dito do principe...Mas para que queria uma criança um toucador de senhora? Transformei-o completamente: tirei o espelho, pintei-o de madeira e coloquei-lhe um tampo em balsa e por fim encerei-o várias vezes.
A partir das mesas "verdadeiras" fiz-lhe umas ferragens em estanho (mais uma vez obrigado Zaphia...) e pintei de dourado.

Coloquei-lhe o que habitualmente se colocava: louças e/ou pratas. Neste caso, foi um serviço de chá, com o tabuleiro e um prato coberto.
Mas e por cima da mesa? Gravuras? Resolvi colocar uma prateleira (que fiz em balsa), decorada com "porcelana chinesa" e "castiçais de prata", tudo da Eurominis. Em relação às prateleiras de apoio às salas, aconselho-vos a ver novamente a mensagem "Fontes de Inspiração I".
Também decidi pintar a porta da cozinha de branco: ficou mais à época e mais neutra.


Um plano maior e mais uma vez a ausência da balaústrada a dominar o panorama....

Nesta fotografia é que se pode apreciar bem o soalho e o seu aspecto já envelhecido, que as criadas varriam e esfregavam com esfregão de arame e depois enceravam.

As mísulas da prateleira foram adquiridas na Eurominis e pintadas de dourado.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sala de Jantar II

Vou mostrar o que tenho vindo a fazer com a Sala de Jantar. Tirei o papel autocolante do chão, pacientemente fiz tacos em madeira à escala, colei, apliquei um tapa-poros e dei várias vezes cera, para ficar com o aspecto de soalho de madeira já com alguma patine dos séculos...

Mas e que fazer com os rodapés? De madeira, como fiz noutras divisões do palacete não permitem que os móveis se encostem totalmente às paredes. Resolvir usar da mesma coerência histórica e fazer um rodapé característico de azulejos usados em escadas. Fiz de propósito para que ficassem ligeiramente tortos, tal como os originais.

Em relação ao tecto: a Planeta Agostini só me entregou duas cimalhas!! Faltava uma terceira para poder colocá-las. Havia que procurar outra solução e resolvi procurar novamente nos palácios nacionais.
Na zona norte é comum usar-se o tecto em madeira, geralmente em caixotões lavrados, ou em travejamentos ou em masseira. Neste caso, optei por ripas de mogno, tratadas com tapa poros e enceradas. Pena que não tenha pensado nesta solução mais cedo, pois para que o resultado tivesse mais coerência, tinha sido necessário fazer também as outras divisões com tectos em madeira...

Quem tiver oportunidade de visitar o Solar de Mateus, em Vila Real, ou o Paço Episcopal de Braga vai ficar deliciado com o trabalho de marcenaria realizado nos tectos, pois por vezes parece filigrana.


E agora mais mobília nova.... Comprei esta mesa de encostar na Eurominis, mas para que a mesma se integrasse na época (e com a perna direita só podia pertencer à época D. Maria) resolvi, e a propósito de umas molduras da Zaphia (a quem agradeço as explicações) realizei estas aplicações Luís XVI, em estanho, muito perto das tendências da época. Estas mesas abundavam nos salões, não porque guardassem muita coisa, mas porque ocupavam pouco espaço, expunham objectos de bom gosto e podiam servir de mesas de apoio durante os jantares.

Neste caso, acho que neste sítio fazia falta uma peça de mobilia, mas que não impossibilitasse a passagem pelas escadas....
Foi decorada com peças da Eurominis, o mais próximas possíveis das tendências da época: a porcelana chinesa azul e branca, característica da Dinastia Ming, mas que ainda se produzia no século XVIII (Dinastia Quing) e tinha a maior simpatia dos portugueses....




domingo, 9 de novembro de 2008

Prémio

Este Prémio foi-me concedido pelo Paco (Miniaturas del Minimundo de Paco) e passo a citar: "hemos decidido que te mereces el premio Meme por tu representacion tan preciso del palacio."
As regras do Prémio são:
- Seguir as regras...!
- Compartilhar com os outros bloguistas e amigos seis coisas mesmo importantes e seis coisas nada importantes.
- Eleger seis pessoas.
- Contactá-las e deixar uma mensagem no seu Blogue.
Elejo os seguintes bloguistas para conceder o Prémio:
- À Biby:
http://bibycasadebonecas.blogspot.com/
- Ao Ritchie:
http://miniaturasecolecoes.blogspot.com/
- À Ana Anselmo:
http://miniaturesforever.blogspot.com/
- À Rute:
http://rtgcdb.blogspot.com/
- À Zaphia:
http://o-mundo-de-zaphia.blogs.sapo.pt/
- Ao Proença:
http://experimentarminiaturas.blogspot.com/

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Fontes de Inspiração I


Como não tenho mais nada para mostrar, não porque não tenha feito mais nada, mas porque por agora não tenho máquina fotográfica, vou mostrar alguns dos ambientes que, para mim, se constituem como fonte de inspiração.

A primeira imagem mostra o interior de uma habitação de um coleccionador dos finais do séc. XIX, início do século XX, que mostra um tremó, emoldurado por duas luminárias e por duas cadeiras D. Maria.
A segunda também é o interior de uma habitação de um coleccionador, dos finais do séc. XIX que mostra uma belíssima lareira e uma vitrine ladeada por duas cadeiras D. José.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Salão de Jantar I


Nos princípios do século XVIII não havia uma divisão com esta designação nas habitações nacionais. Regra geral, em cada casa existia um tampo, montado sobre cavaletes: esta estrutura, que se montava rapidamente, depois de finda a sua função era novamente guardada, sem ocupar muito espaço.
Só na 2ª metade de setecentos é que o Salão de Jantar, enquanto uma divisão especifíca, com uma identidade própria, se autonomiza entre nós.
Na sua decoração óptamos por usar os papéis fornecidos pela Planeta Agostini: fizémos as molduras em madeira e dourámos. Embora não seja um tipo de decoração parietal muito comum entre nós, foi usado em alguns espaços nobres portugueses.

Na decoração dos painéis usámos os elementos mais comuns da decoração desta época: as gravuras. Eram mais acessíveis que as pinturas e desde a sua invenção e divulgação em Portugal que tiveram um lugar privilegiado no interior dos lares nacionais.
Que temas? Em relação ao nosso palacete, embora a sua edificação tenha começado no início do século XVIII, ao que se seguiu a colocação de alguns elementos (como os azulejos de figura avulsa da cozinha e os painéis do Salão de Entrada), ele pertence, no campo das Artes Decorativas, à segunda metade do séc. XVIII, mais em concreto ao período de charneira entre o reinado de D. José e os primeiros anos do reinado de D. Maria (com peças herdadas de períodos anteriores, como o Contador e os Pratos de Aranhões da cozinha).
Assim, achámos por bem destacar em grande plano uma reprodução de uma gravura que é um projecto de reconstrução da Baixa Lisboeta, em particular da Praça do Comércio, pós terremoto de 1755.

Está ladeada de duas gravuras religiosas, da devoção dos donos da casa, como era comum nos interiores. Todas as molduras foram feitas por mim, em balsa. Nos painéis mais pequenos coloquei os apliques, embora os tenha transformado em luminárias (a luz do espelho reflectia a luz das velas e duplicava a luz).


A Planeta Agostini ainda não entregou a balaústrada.
No entanto, quero ressaltar que este é o grau zero da Sala de Jantar, pois tenho ainda muitos planos para a mesma, que já comecei a pôr em prática, no intuito de aportuguesar a divisão e de a mobiliar. Uma dessas alterações foi o arrancar do papel autocolante do chão e colocar taco de madeira e encerar...

sábado, 25 de outubro de 2008

Salão de Entrada II


Mostro mais uma imagem do Salão de Entrada, longe de estar ainda concluído.
Tal como vinha no projecto do Palácio da Agostini, também coloquei o par espelho/consola ao fundo, num arranjo simétrico com a escada.
Esta teve de ser pintada (duas demãos) e mesmo depois de algumas adaptações, continua torta. Teve de ser aparafusada à parede de trás para ficar bem segura. Embelezei os degraus com uma imitação de tapete em papel de veludo autocolante.
Em relação ao par espelho/consola, nesta época abundavam nos lares nacionais, quer nobres, quer burgueses, o que é curioso, dada a sua pouca ou nenhuma utilidade. A divulgação deste móvel (quando unido o espelho à consola chama-se tremó) relacionou-se também com a nossa abertura às tendências internacionais no campo do mobiliário, iniciada no reinado de D. João V, prolongando-se pelo reinado de D. José e ocorrendo novamente durante o reinado de D. Maria I.
Neste caso, este par pertence, em termos estilísticos, ao reinado de D. José, pois embora também existam no reinado de D. Maria I, já não são dourados, mas em madeira e de linhas direitas.
Em resumo: neste Salão de Entrada, que se constitui como uma entrada de aparato (embora completamente esmagado pela área ocupada pelas escadas e com erros de proporções) coexistem duas grandes tendências do nosso panorama artístico:
- por um lado, a vocação nacional, bem expressa nos painéis de azulejos e também no contador.
- por outro, a internacionalização, marcada aqui pelo francesismo do par espelho/consola.
A Planeta Agostini, embora tenha entregue as duas cimalhas laterais, não entregou a de topo...
Mas, por outro lado, se a área disponível para se subir os degraus é miníma sem a cimalha, que acontecerá se ela for entregue?
Resolvi também alterar os candeeiros, pois o tecto é muito baixo e o lustre sobrepor-se-ia aos degraus. Não coloquei as colunas, pois o seu uso entre nós teve um impacto insignificante nos interiores dos palacetes e neste caso anulava a leitura do espelho/consola.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Salão de Entrada I

Aqui está o Contador, com a cadeira renovada, como convém a um Salão de Entrada: as pessoas não íntimas aos habitantes deste palacete eram recebidas nesta área, e era aqui que aguardavam saber se iam ou não ser recebidas. Caso a resposta fosse positiva, o mais provável eram serem atendidos no Escritório/Biblioteca, pois todas as outras divisões estavam relacionadas com um maior grau de intimidade.
Assim, enquanto esperavam (as criadas tinham de aguardar autorização e depois anunciar a visita) nada melhor que esperar sentado.

Como se percebe peloa imagem, para a decoração do Salão de Entrada decidi revestir as paredes novamente a azulejo. Andei a investigar qual o tipo de revestimento mais comum nos palácios nesta época e uma boa percentagem apostou nos azulejos.

Os revestimentos a azulejos constituíram uma alternativa nacional face às decorações europeias, em particular aos ambientes franceses, onde abundavam as talhas, os estuques, as molduras, os frisos, numa filigranagem decorativa que teve o seu eco em Portugal, por exemplo, no Palácio de Queluz, que reflecte muito desse gosto.

O azulejo era uma alternativa inovadora, duradoura, higiénica e resistente que, através de painéis representando temas diversos (mitológicos, cenas campestres, cenas religiosas, alegorias, etc) conseguia interessantes efeitos de trompe l'oeil. Os painéis dinamizavam os espaços, "abrindo janelas" de grande efeito cenográfico. E para os enquadramentos e molduras a azulejaria propôs composições que recorriam a elementos de arquitectura como pilastras, cartelas, sanefas, mísulas, etc. em harmonia com aquilo que acontecia também na talha dourada.


Dete modo, retirei a minha inspiração de inúmeros palácios portugueses que, em meados de setecentos e num fenómeno de norte a sul do país (e com igual impacto no interior de igrejas e espaços conventuais) adaptaram e divulgaram esta forma de expressão artística.

A pintura, exclusivamente a azul cobalto, estava intimamente relacionada com o gosto nacional que, desde o início do século XVI, havia adoptado o azul das porcelanas da China ou, como se dizia na época "louça da Companhia das Índias" e também por influência da azulejaria holandesa, realizada a óxido de manganês (mas muito menos expressiva).

Usei como base de projecto os painéis de azulejos que decoram o Salão de Entrada do antigo Palácio dos Mello (hoje Hospital dos Capuchos, Lisboa) que constam de uma série de painéis da primeira metade do século XVIII, com cenas campestres e de caça.

Tive de realizar algumas adaptações, não só ao nível da escala 1/12, mas em particular nas cercaduras e nas molduras (anulei os vasos que coroavam os remates e uma fiada inferior).

Para quem deseje visitar palácios com azulejos nas paredes das entradas, para o norte temos o Palácio da Brejoeira, em Monção, o dos Biscainhos, na cidade dos Arcebispos, o palácio dos Condes da Anadia e para a zona da capital, o palácio do Correio-Mor, em Loures.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mobília Nova IV

Depois de testar a mobília do Salão de Entrada verifiquei que para tão grande área, os móveis entregues eram poucos. E uma vez que um dos princípios subjacentes a este projecto se centra no "portuguesismo" das nossas Artes Decorativas, decidi fazer (porque não encontrei à venda), um móvel que se tivesse a ver com a nossa identidade artística e em simultâneo, com os nossos palacetes.
A minha escolha recaiu no Contador (realizado em balsa, à excepção das pernas, adquiridas no Hospital das Bonecas) que pintei e encerei de modo a imitar, o mais fielmente possível, o pau preto, pau santo e/ou carvalho, madeiras em que usualmente eram feitos. Para as ferragens usei alfinetes de cabeça e uns autocolantes dourados.

O Contador era um móvel bastante versátil, com as suas origens no séc. XVI (sem pernas, era de pousar em cima das mesas e é somente no século XVII que ganha autonomia) e fruto da miscigenação artística resultante do contacto entre os artificies portugueses com o Oriente e com o tipo de mobílias que decorava os interiores da nobreza oriental.
Era usado para guardar dinheiro, jóias, ouro, cartas entre outros valores importantes. Era um móvel versátil e encontramo-lo nas mais diversas áreas das habitações portuguesas (desde as alcovas, aos escritórios, bibliotecas, salas, etc.). É das criações nacionais mais originais.

Este contador foi realizado a partir de modelos do séc. XVII (do Museu Nacional de Arte Antiga e de colecções particulares), pois a sua produção entrou em declínio a partir do séc. XVIII e porque os exemplares conhecidos de setecentos são extremamente difíceis de concretizar (pelo menos com os meus conhecimentos rudimentares).
O corpo superior, pelas inúmeras gavetas, especializava a guarda de vários valores. Já as pernas torneadas vão ganhando em complexidade à medida que o Barroco se desenvolve, até que em pleno séc. XVIII as pernas desembocam num trabalho extraordinário de torcidos e torneados.
É diferente dos cabinets franceses, geralmente com duas portas e decorados com embutidos, lacas e chinoiseries.
As suas ferragens também evoluem para modelos complexos, que exigiam grande experiência e que, embora continue a tentar, são dificeis de imitar nesta escala.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Planeta De Agostini

Amigos

Esta mensagem é para quem, como eu, está à espera de uma resposta à reclamação que uma boa porção de clientes fez à Planeta Agostini em relação ao "Palácio de Bonecas" para avançar na realização do palacete.

Telefonei agora para o nº geral e ainda ninguém sabe de nada: nem o que vai ser ainda entregue, nem quando, nem como. Lembro que o último número foi entregue em Julho e que três meses chegam para, pelo menos com os respeito que os consumidores exigem, dar uma satisfação a quem, durante mais de dois anos e meio adquiriu os 100 fascículos.

Aceito sugestões para descobrir como vou (vamos) substituir a balaústrada da Sala de Jantar.

sábado, 18 de outubro de 2008

Sala de Música I

Um dos outros erros deste "palácio" é a escala desta Sala de Música: é exígua e a música não se devia ouvir muito bem porque a acústica para instrumentos como o cravo requer um espaço maior e mais alto. Ainda falta o aro da porta.


Encontrei um motivo da época, colei e protegi com verniz. Recortei ainda mais alguns motivos e fiz o chão em madeira.
Em relação ao mobiliário, pretendo ainda reformular as cadeiras (estofá-las de outra cor, é tudo muito branco) mas por agora ficam assim.
Um armário para guardar as pautas também seria um elemento necessário, mas o que coloquei não me parece da época, mas posterior (séc. XIX) e ao gosto inglês.

Nada melhor então que decorar a parede de fundo com uma "pintura", neste caso recorrendo à técnica da decoupage.
O tema escolhido teria de andar em torno das tendências da época: uma cena galante, com um cenário campestre, à semelhança do tipo de cenas de pintores como Watteau, Boucher, etc, onde abundavam figuras delicadas e vaporosas, em agradáveis fundos de paisagens pitorescas.
A estas composições não é estranho a presença de uma ou outra figura da comédia dell'arte, ou puttis.
Em síntese, graça, elegância e fantasia.

Como decorar a Sala de Música? Qual ou quais os aspectos que se pretendem destacar?
Em contexto nacional, os palácios e palacetes que tinham Sala de Música atestavam um convivio social e cultural de nível significativo. E o tipo de instrumentos também tinha a sua importância: neste caso, os grandes protagonistas eram o cravo e a harpa.
As pinturas nas paredes e nos tectos imprimiam uma dinâmica muito própria ao espaço decorado. Vale a pena visitar as pinturas que decoram a escadaria nobre do Paço Episcopal do Porto, ou as do Palácio de Mafra.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Mobília Nova III




Um dos móveis mais característicos dos ambientes nacionais desde a Idade Média é a arca ou baú. Servia para tudo: guardar roupa "de cama", roupa de vestir e também para guardar loiça. Depois da tampa fechada, servia também de móvel de assento.

As arcas reflectem muito da evolução artística: no Renascimento são decoradas "ao romano", no período filipino são caracterizadas pelo geometrismo das suas formas lavradas, executadas em madeiras nobres (teca, pau santo, vinhático, etc.) com ferragens. Os baús eram geralmente em pinho e forrados com couro lavrado, também com as suas ferragens.

No séc. XVIII são quase banidas dos interiores europeus por causa do aparecimento da cómoda, que especializa a arrumação das roupas, embora ainda tenhamos notícia da sua presença no panorama nacional através dos testamentos e inventários: eram mais baratas que as cómodas, no caso de estratos sociais mais baixos ou a sua presença devia-se a herança familiar.
Neste caso, resolvi fazer uma arca, para colocar no quarto, aos pés da cama. Imita um tipo de arca de fabrico nacional dos finais do séc. XVII, mais humilde que as grandes arcas lavradas com motivos geométricos. Foi encerada e em relação aos "pés" já elaborei alguns e não gostei de nada! Por agora fica assim.