quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mobília Nova IV

Depois de testar a mobília do Salão de Entrada verifiquei que para tão grande área, os móveis entregues eram poucos. E uma vez que um dos princípios subjacentes a este projecto se centra no "portuguesismo" das nossas Artes Decorativas, decidi fazer (porque não encontrei à venda), um móvel que se tivesse a ver com a nossa identidade artística e em simultâneo, com os nossos palacetes.
A minha escolha recaiu no Contador (realizado em balsa, à excepção das pernas, adquiridas no Hospital das Bonecas) que pintei e encerei de modo a imitar, o mais fielmente possível, o pau preto, pau santo e/ou carvalho, madeiras em que usualmente eram feitos. Para as ferragens usei alfinetes de cabeça e uns autocolantes dourados.

O Contador era um móvel bastante versátil, com as suas origens no séc. XVI (sem pernas, era de pousar em cima das mesas e é somente no século XVII que ganha autonomia) e fruto da miscigenação artística resultante do contacto entre os artificies portugueses com o Oriente e com o tipo de mobílias que decorava os interiores da nobreza oriental.
Era usado para guardar dinheiro, jóias, ouro, cartas entre outros valores importantes. Era um móvel versátil e encontramo-lo nas mais diversas áreas das habitações portuguesas (desde as alcovas, aos escritórios, bibliotecas, salas, etc.). É das criações nacionais mais originais.

Este contador foi realizado a partir de modelos do séc. XVII (do Museu Nacional de Arte Antiga e de colecções particulares), pois a sua produção entrou em declínio a partir do séc. XVIII e porque os exemplares conhecidos de setecentos são extremamente difíceis de concretizar (pelo menos com os meus conhecimentos rudimentares).
O corpo superior, pelas inúmeras gavetas, especializava a guarda de vários valores. Já as pernas torneadas vão ganhando em complexidade à medida que o Barroco se desenvolve, até que em pleno séc. XVIII as pernas desembocam num trabalho extraordinário de torcidos e torneados.
É diferente dos cabinets franceses, geralmente com duas portas e decorados com embutidos, lacas e chinoiseries.
As suas ferragens também evoluem para modelos complexos, que exigiam grande experiência e que, embora continue a tentar, são dificeis de imitar nesta escala.

3 comentários:

Biby disse...

Olá C Fernandes! Esse contador é muito bonito.
No meu palácio no hall de entrada optei por colocar o papel de parede em molduras de tamanho pequeno pois a ideia é colocar um contador daqueles da HUAMEI lacado a branco e dourado e não queria que ficasse por cima das molduras.
Parece que tivemos transmissão de pensamento.
Beijinhos
BIBY

Ricardo Pereira disse...

gostei muito também. gosto do facto de conseguires executar os moveis de modo a que se consiga perceber perfeitamente o estilo a que se referem.
ficará muito bem na divisão escolhida. eu ainda não sei o que fazer mas ainda não me debrucei sobre o assunto.

C. Fernandes disse...

Olá amigos

O contador está um pouco descontextualizado cronologicamente, pois é do séc. XVII. Mas não é fácil decorar o salão de entrada por causa da sua simetria (par de espelhos/consolas e escada)e porque qualquer móvel mais largo, encostado às paredes laterais, não deixaria ver a consola.
Faço de conta que, no contexto do palacete, o contador é um móvel de família, herança familiar de gerações, integrado agora no resto da mobilia...E é muito comum nos interiores portugueses.
Em relação aos sitios onde se podem adquirir móveis escala 1/12 é tudo muito estereotipado no tipo de mobilias francesas e inglesas, pertencentes ao séc. XIX na sua maioria. A Huamei já marca a diferença, pois tem um leque de escolha maior e com muita coisa do séc. XVIII, de grande qualidade, mas também de influência francesa. E o preço é o grande entrave, embora corresponda à qualidade!

Um abraço